Banco Central reduz sua estimativa para o comprometimento da renda
das famílias com crédito
O Banco Central alterou, no Relatório de Estabilidade Financeira divulgado nesta
terça-feira (20 de setembro), a metodologia de cálculo para o comprometimento
da renda das famílias com serviços de dívidas (amortização e juros). A mudança
buscou tornar os dados publicados pelo Banco Central mais comparáveis com as
normas internacionais. As principais alterações na metodologia foram:
(1) Mudança no cálculo da amortização, do Sistema de Amortização
Constante (SAC) para o método Price. Neste último, as prestações são
constantes ao longo do contrato, refletindo amortizações crescentes e
pagamentos de juros decrescentes. A leitura do Banco Central é que a
utilização do sistema SAC, que considera amortização constante e o custo
mais elevado dos juros para todo o empréstimo na primeira parcela (a que
era utilizada no cálculo), superestima o indicador de comprometimento de
renda. Além disso, o Banco Central aponta que o sistema Price (com
parcelas fixas) é o mais utilizado nas operações de crédito no País.
(2) Utilização da taxa média de juros de toda a carteira de crédito, ao invés da
taxa referente aos novos empréstimos. Com isso, a taxa média considerará
as taxas passadas, de acordo com o prazo médio dos empréstimos.
(3) Na metodologia anterior, o cálculo do comprometimento de renda das
modalidades de crédito rotativo incorporava apenas os juros, não
atribuindo o pagamentos de principal. No novo cálculo, o Banco Central
passou a considerar um cronograma de amortização do crédito rotativo
(particularmente cartão de crédito e cheque especial), tendo em vista o
prazo médio estimado dessas operações.
(4) Incorporação de receitas financeiras na medida de renda disponível.
Passaram a ser considerados os rendimentos recebidos por pessoas
físicas relativos a aplicações financeiras em caderneta de poupança,
Certificado de Depósito Bancário (CDB), títulos públicos e fundos de
investimentos. Segundo o Banco Central, esse total atingiu R$6,7 bilhões
em julho de 2011, representando 4,5% da massa salarial ampliada
disponível (que considera a renda do trabalho, acrescida de benefícios
previdenciários e programas sociais, deduzida de contribuições
previdenciárias e imposto de renda).
(5) Utilização de uma medida dessazonalizada da massa salarial ampliada, ao
invés da renda disponível média dos últimos 12 meses.
Os novos resultados apontam um menor percentual de comprometimento de renda
com crédito, em comparação com a metodologia anterior. O uso da nova metodologia
diminuiu o comprometimento da renda das famílias com o serviços de dívida de
26,9% para 21,1% em julho. Embora o Banco Central não informou qual das
alterações foi a principal responsável pela redução no indicador, é provável que a
alteração do sistema de amortizações, a introdução das receitas financeiras das
famílias e a utilização da renda dessazonalizada mensal (que tende a ser mais
elevada do que a média móvel de 12 meses por esta ser defasada) tenham explicado
essa redução. Em nosso entendimento, essa alterações mais do que compensaram a
introdução do pagamento do principal nas modalidades de crédito rotativo. Entretanto,
ao contrário da metodologia anterior, o novo cálculo mostra tendência de elevação do
comprometimento da renda com crédito a partir de julho de 2008, enquanto que na
metodologia anterior o aumento era mais expressivo apenas nos últimos meses
(Gráfico 1). O Banco Central revisou ainda o cálculo do endividamento total das
famílias com o Sistema Financeiro Nacional como proporção da renda anual total. O
novo cálculo que apontou ligeiro declínio nessa estimativa, em função da elevação da
projeção para a renda (Gráfico 2).
Abs